Um Raio-x digital da área rural de Figueirão-MS

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Na edição desse mês de Agosto da Revista DBO Rural referência nacional no Agronegócio (@portal_dbo) tem uma reportagem do competente jornalista Ariosto Mesquita sobre a pecuária 40! Nessa reportagem é apresentado o mapa digital do zoneamento rural do município de Figueirão que é extremamente inovador e referência a nível nacional essa plataforma de informações que dá várias ferramentas para tomada de decisão para gestão municipal como também atrai investidores ao nosso município.

Figueirão, no MS, mapeia suas 605 propriedades rurais, fornecendo informações aos pecuaristas para avaliação fundiária e planejamento.

Abaixo, imagem da Fazenda La Esperanza, da paulistana Monica Hoop Granieri, que usou o mapeamento da prefeitura para decidir a compra da propriedade, por  foto de Ariosto Mesquita

Com uma população de 3.051 habitantes (estimativa IBGE 2019), a pequena Figueirão, no norte do Mato Grosso do Sul, distante 243 km da capital Campo Grande, está comemorando um grande feito: o zoneamento econômico digital de 100% de seu território, que abrange 488.300 ha (4.883 km 2 ). Foram quatro anos de trabalho para mapear cada pedacinho de Figueirão por meio de ferramentas de TI (tecnologias da informação), incluindo 605 propriedades rurais. Um município inteiro entrou na Era 4.0. O mapeamento mostrou que 90% de das propriedades são de pecuária, 70% de gado de corte. A aptidão das terras, as áreas de preservação, o esquema produtivo de cada fazenda, a estrutura viária rural (estradas, pontes, porteiras, mata-burros) – está tudo lá, formando uma verdadeira teia de informações.

O que isso tem a ver com a pecuária 4.0? Tudo, pois as tecnologias da informação (TI) usadas pelo município possibilitam diversos usos, fornecendo, inclusive, subsídios para a gestão rural. A empresária paulistana Monica Hoop Granieri, por exemplo, comprou a Fazenda La Esperanza (1.200 ha), em 2019, após ter acesso ao mapeamento da prefeitura. “Procurei terras durante dois anos em Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul. Estava muito insegura, pois as documentações sempre apresentavam pendências. Quando fui a Figueirão, vi a propriedade, conferi suas informações na prefeitura e não tive dúvidas. Conheci as terras em uma sexta-feira e fechei negócio na quarta-feira seguinte”, conta a produtora, que já começou seu projeto de “pecuária sustentável” com uma gama enorme de dados sobre a fazenda.

“O zoneamento digital permitiu que eu visualizasse não somente a documentação da propriedade, mas também o que sua vizinhança está produzindo, a infraestrutura disponível e o nome dos produtores nas proximidades. Eu me senti segura”, afirma Monica, que hoje dedica- -se à cria/recria, com rebanho de 1.500 cabeças, em média. O mapeamento digital de Figueirão está facilitando não apenas o trâmite cartorário na venda de terras, mas também ações de manutenção em benfeitorias rurais. O sistema é abastecido por fotos, documentos e históricos das propriedades, além de dados georreferenciais. Ao longo dos dois últimos anos, as informações foram sendo gradualmente liberadas para garantir fácil acesso e compreensão. Grande parte passou a ser usada na gestão municipal, mas muitas informações estão hoje liberadas para consultas mediante solicitação.

Tomada de decisões

O acesso a dados confiáveis e detalhados foi determinante para que o empresário Luiz Carlos Bezerra da Silva investisse, a partir de 2018, na aquisição da Fazenda Bom Jesus (717 ha), em Figueirão, onde hoje trabalha na atividade de cria com um rebanho inicial de 450 novilhas. “O corretor que me atendia trouxe informações públicas muito detalhadas sobre tamanho da área, topografia, acessos e um mapa completo sobre cursos d’água. Quando fui conferir in loco, tudo batia. Isso me passou credibilidade e foi decisivo no negócio”, conta o produtor, que também atua no ramo da construção civil na capital paulista e toca uma fazenda de pecuária no sul de Minas Gerais.

A Fazenda Bom Jesus fica a 57 km da área urbana da cidade (32 km em asfalto e 25 em terra batida) e quando Silva foi conferir a logística de acesso, recebeu informações que lhe deram condições de dimensionar aspectos do escoamento de sua produção, incluindo número de pontes, porteiras, opções de acesso e condições das estradas, tudo com ferramentas de TI, base para a Pecuária 4.0. “A exatidão me impressionou muito”, garante. Hoje, ele já está disposto a ampliar seu negócio: “Minha ideia é comprar algo em torno de 300 ha no município para implantar lavoura, uma área de semiconfinamento a pasto e um confinamento com capacidade estática para 1.000 cabeças. Quero fazer ciclo completo em Figueirão”, projeta.

As informações do Sistema de Mapeamento de Propriedades Rurais liberadas ao público em geral (parte é de uso exclusivo do governo municipal) podem ser conferidas no endereço http://mapa.figueirao.ms.gov.br. Assim que a tela abre, surge um mapa com a visão geral do município em uma espécie de mosaico segmentando os espaços ocupados pelas propriedades. Ao clicar dentro dos limites de cada uma, o interessado obtém o nome da fazenda, sua área em ha, divisões, infraestrutura. A imagem na tela ainda pode ser ampliada ou reduzida, conforme a necessidade de planejamento.

Aptidões econômicas

A decisão de investir em um amplo diagnóstico digital rural partiu do prefeito Rogério Rosalin, homem com longa experiência na pecuária da região. Por 16 anos ele foi gerente da Fazenda 3R, de propriedade do pecuarista Rubens (Rubinho) Catenacci, conhecido por muitos como o “rei do bezerro”, falecido em 2019. Setindo falta de informações para a tomada de decisões administrativas, Rosalin determinou a realização desse “raio-x”, principalmente para identificar as aptidões econômicas do município, visando atrair investidores (indústrias, cooperativas e novos projetos agropecuários). Cruzou dados da prefeitura com os dos cartórios, Incra e Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).

“Comecei a perceber que muitas informações não batiam com o que se revelava. Tinha gente declarando o valor por hectare de terra em R$ 100. Também identifiquei muita vaca de papel, ou seja, produção acima da realidade para obter mais recursos junto às instituições financeiras”, revela. No começo, muita gente “ficou brava”, mas os resultados foram positivos. O ISS aumentou em 20% nos últimos quatro anos e o ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis, em 60%, no período 2016-2019. Rosalin também conseguiu atrair mais investimentos para o município: “Passamos a ter informações de confiança para fornecer aos corretores. Com isso, aumentou muito a comercialização de terras, sobretudo com a introdução de novos projetos de pecuária”, avalia.

Só não vingou o projeto de montar uma cooperativa de carnes em Figueirão. Os números não foram favoráveis: “Contratamos um estudo de viabilidade para uma planta frigorífica sem desossa. A ideia era deixar de vender animal vivo e passar a comercializar a carcaça para desossa em São Paulo. Mas a margem se mostrou pequena. Para viabilizar, a oferta de gado terminado deveria ser de, no mínimo, 30.000 cabeças/ano. O levantamento indicou variação entre 22.000 e 25.000 animais/ano”. O mapeamento digital das propriedades reforçou esse diagnóstico das atividades do setor primário de Figueirão.

Pecuária

Agricultura/Florestas

Ao apontar a principal aptidão pecuária do município: a atividade de cria. Os relatórios revelam que 60% das propriedades são de criadores, ou seja, produtores de bezerros. O investimento público neste modelo de informação, segundo o próprio Rosalin, foi de R$ 300.000.

O que foi feito?

A base do mapeamento digital foi montada entre os anos de 2016 e 2017 por uma equipe da prefeitura, liderada por um profissional (engenheiro agrimensor) contratado. Mas, somente a partir de 2018, as informações começaram a ganhar o status de acessíveis. Esse trabalho foi concluído no início de 2020 e, hoje, o acesso pode ser feito online e por solicitação de consulta. “Há dois anos, apresentei algumas soluções para a instabilidade que o sistema da prefeitura apresentava. Foi quando o Rogério Rosalin me falou do mapeamento. Esse trabalho havia sido realizado por GPS, usando tecnologia QGIS, que é um sistema de informação geográfica empregado pela engenharia agronômica, mas de extensões e coordenadas complicadas, permitindo o acesso de poucas pessoas. Os dados não convergiam para o sistema web”, conta Antonio Barros, o consultor de TI do município.

Coube a ele o desenvolvimento prático do produto, transpondo o mapeamento para um sistema de informação de fácil acesso e compreensão. A prefeitura cedeu o arquivo do zoneamento digital e Barros, junto a uma equipe de desenvolvedores, transportou os dados para o formato web, além de permitir a inserção de informações atualizadoras sempre que necessário: “Para isso, usamos o banco de dados relacional Postgres, linguagem de programação Asp.net e servidor Linux para gerenciar a aplicação”.

Esse trabalho, além de ampliar o acesso às informações, fez com que o mapeamento digital passasse de estático para dinâmico. Ele possibilita, por exemplo, o cruzamento de dados de plataformas como Incra e Cadastro Ambiental Rural (CAR). Barros conta que o modelo é passível de evoluções, melhorias (versões) e atualizações. “Disponibilizamos o sistema por completo neste ano para a prefeitura de Figueirão. Ele é originariamente específico para uso da administração municipal, mas a permissão de acesso público a uma versão resumida para usuários em geral e a possibilidade de consultas reflete um certo grau de ineditismo”, avalia.

Tela do Sistema de Mapeamento de Propriedades Rurais, que permite visualizar detalhes estruturais e funcionais, para planejamento

“Tinha gente declarando o valor da terra a R$ 100 o hectare”. Relatou Rogério Rosalin, prefeito de Figueirão.

 

 

 

 

Fonte: Revista DBO Rural

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