“Injusto demais”. Esse é o sentimento descrito por Hélio Vasconcelos Junior, 29 anos, filho mais velho de Ivani Amorim do Nascimento. Ele e a família se despediram da mãe de 52 anos no dia 24 de abril. Agora, juntos vivenciam o luto junto da barra financeira deixada para trás. A morte que bateu na porta de casa e tirou a matriarca dos seus braços agora dá lugar à vida que não espera. E, por ela ter pressa, acaba sendo uma cobrança.
O que começou em 2020 como uma dormência no lado esquerdo do corpo se confirmou 1 ano depois em um diagnóstico do neurologista: a “manchinha” do câncer havia se espalhado a ponto de ocupar boa parte do cérebro. A costureira camapuense necessitava de cirurgia de urgência, pois não bastaria só as sessões quimioterapia e radioterapia. Assim foi feito, inclusive no mesmo dia do aniversário do esposo.
Mesmo no hospital, Ivani sempre tinha um sorriso no rosto; “todo mundo a reconhecia por sua simpatia”, diz o filho (Foto: Arquivo Pessoal)
A cirurgia foi sucesso, conta o filho. “Tudo ocorreu bem. ‘Mais um motivo para comemorar o aniversário do meu pai’, pensamos. No dia seguinte, ela teve um edema cerebral e ficou em coma. O susto foi grande mas ainda continuávamos na expectativa de sua recuperação – que nunca veio”, diz.
Vieram complicações no rim, as sessões de hemodiálise e, na sequência, o enfraquecimento do coração. Por uma parada cardíaca, Ivani faleceu.
Agora a saudade segue acompanhada de uma dívida alta, R$ 140 mil. “Agimos o mais rápido possível para conseguir salvá-la, mas nesse desespero surgiu essa dívida. E agora, logo após a morte dela, não podemos simplesmente lidar com a perda em paz, pois temos que correr para que a situação não vire uma bola de neve”, comenta.
Hélio ao lado dos pais; além da dívida de R$ 140 mil, família ainda perpassa pelo processo do luto (Foto: Arquivo Pessoal)
“Não quero dizer que o serviço prestado pelo hospital não deveria ser pago, de maneira alguma! Minha mãe foi muito bem cuidada e inclusive quero aqui agradecer a todos da equipe que tomaram conta dela. Essas despesas serão pagas, disso não temos dúvida. Mas esse contexto, em ter que lidar com isso logo de cara, é uma barra muito pesada”, confirma.
O valor acumulado ainda não apurado de fato no papel ainda pode ultrapassar os R$ 140 mil, o que corresponde ao tempo de internação, exames, cirurgia, pós-operatório, medicamentos, equipe hospitalar. Hélio recorda que assim que a mãe teve o edema cerebral e foi internada aos cuidados intensivos, a conta já veio parar em suas mãos.
Segundo Hélio, Ivani era uma pessoa simples, risonha e que era uma verdadeira “otimista” (Foto: Arquivo Pessoal)
“Nos ligaram já nos primeiros dias e ficamos chocados, não só pelo alto custo mas pela situação em si. No entanto não tínhamos escolha, e minha mãe não poderia de maneira alguma ser transferida de onde estava”, explica. Mesmo sem plano de saúde, a família optou pela rede privada de saúde justamente pela gravidade do quadro de Ivani.
Hélio revela que já haviam gasto as economias no pagamento da cirurgia da matriarca. “O que não sobrou muito. Pensamos em vender os bens da família e nos esforçarmos para quitar a dívida o mais rápido possível”, ressalta sobre o rombo. Foi aí que o filho criou uma vaquinha na esperança de arrecadar o suficiente e ajudar parte dessa conta.
Perda sem tamanho – O filho descreve dona Ivani como uma pessoa muito positiva, sem tempo ruim para as coisas da vida. “Acho que sua fé era o que a impulsionava. Ela acreditava que viria para o melhor, até a morte. Sinto muita falta da sua luz, do seu sorriso que – sem verbalizar palavras – dizia ‘vai ficar tudo bem’. Não sou otimista como ela, nem meu pai ou meu irmão, então ela a peça que fazia sentido no ‘quebra-cabeça’ da nossa família”, diz.
Natural de Camapuã, Ivani veio de uma família simples, amorosa e bem grande (Foto: Arquivo Pessoal)
Registro mais atual de Ivani; vestida de rosa, ao lado de alguns dos seus familiares queridos (Foto: Arquivo Pessoal)
Ivani adorava estar junto da família. Nas reuniões, churrasco era o de praxe. Natural de Camapuã, distante 142 quilômetros da Capital, ela era uma costureira nata desde pequena. Tinha a simplicidade de amar o que fazia ao mesmo tempo em que passava horas com suas clientes em conversas de “comadres”, daquelas sem fim. “Sua simpatia era reconhecida”, elogia o filho.
Antes de tudo acontecer, Hélio estava em São Paulo, até então onde morava. Nos primeiros episódios da mãe, pegou o primeiro voo para Campo Grande e aqui ficou. Ele afirma que não tomou a frente de tudo – principalmente da dívida – pois contou com a ajuda do seu pai e também da tia Gercina.
“Quando cheguei em Campo Grande tudo já estava ‘encaminhado’. O diagnóstico havia sido feito, o médico estava organizando a cirurgia e minha mãe estava hospitalizada. Ajudei no que pude, e quando veio o coma, a confirmação da morte e a incerteza do tamanho da dívida, fiz a vaquinha”, pontua.
Irmãs de Ivani, entre elas Gercina, que tomou a frente da situação junto do pai e do irmão de Hélio (Foto: Arquivo Pessoal)
Experiência – “Ninguém precisa passar por tudo isso para entender que se trata de uma situação dura, que a morte vem e a vida continua. Porém é uma lição aprendida. Tudo é. Para mim é simples: ou você faz tudo o que tem condições ou deixa as coisas tomarem seu próprio rumo. Não penso que todos devem se planejar para ter uma vida ‘perfeitinha’ caso imprevistos aconteçam. As pessoas sonham, tentam, arriscam. Isso é viver. Problemas sempre irão existir e eventualmente serão todos resolvidos, de uma forma ou de outra”, reflete Hélio.
Para a família, perder Ivani não tem tamanho, dimensão, preço. “Estamos conseguindo lidar mas é muito difícil aceitar, afinal ela se foi muito antes do seu tempo… o que nos conforta, neste momento de dor, é a paz. Não vai mais sofrer por causa de uma doença tão cruel. Acredito que fizemos tudo o que podíamos na hora”, justifica.
Registro de Ivani, seu marido e dos filhos que está na capa da vaquinha dedicada à mãe (Foto: Arquivo Pessoal)
Agora, Hélio deposita suas confianças na vaquinha que ele mesmo criou. “Seja de uma maneira tranquila ou nem tanto, tudo irá se resolver e, então, deixará de ter importância. O que não perderá o seu valor, entretanto, é a memória de quem mais amamos, as lembranças, todo o amor e carinho deixados conosco. Minha mãe foi uma das melhores pessoas que eu já conheci. Foi um privilégio ter Dona Ivani como mãe e vou guardar isso pro resto dos meus dias”, finaliza.
Para ajudar Hélio e sua família, basta contribuir com a vaquinha on-line ou então conversar diretamente com o filho via perfil no Instagram.
Fonte: CG News